sábado, 22 de março de 2008

Entro no quarto.

Entro no quarto, o meu cheiro. Dispo-me e fico de tronco nu. Apesar do frio, não penso nas consequências. Gosto de olhar para o meu corpo, por mais insignificante, magro e inútil que seja. Ligo a aparelhagem, muito baixinho, porque está tudo envolto em duros pesadelos e não querem que tudo se destrua ao menor som. Os sonhos são o que de mais estranho existe nas nossas vidas. O tempo passa lentamente. Nunca o vi passar tão devagar. Olhei para fora e agarrei a primeira estrela que encontrei. Ainda resistiu levemente, mas por fim soltou-se do céu e veio ter comigo de rompante. Estava ao meu lado, a luz era tão forte, o barulho era tão ensurdecedor que pensei que tudo iria acordar. Mas por mais incrível que pareça, nada mudou. Tudo permaneceu e o céu ficou mais vazio.
Voltei a entrar. Deitei-me tal e qual me encontrava. Desliguei a aparelhagem e adormeci de olhos abertos. Adormecemos sempre de olhos abertos, por mais que tentemos eles nunca se apagam, continuam sempre ligados à espera de uma razão demasiado forte para se desligarem de vez. Voltas e voltas na cama à procura da melhor posição que parece não querer chegar. Futilidade extrema que esta sociedade alcançou, mas regozijo-me por ser dos poucos que ainda pensa no verdadeiro sentido desta merda toda.

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